Um confronto entre integridade jornalística e assuntos, digamos complicados na nossa democracia, resultou no cancelamento de uma entrevista que estava agendada para ocorrer na quarta-feira com o influenciador e candidato a prefeito Pablo Marçal. A entrevista, que prometia abordar diversos temas relevantes, foi cancelada após o jornalista Paulo Figueiredo se recusar a ceder a exigências feitas pela assessoria de Marçal.
Conforme relatado pelo jornalista, os preparativos para a entrevista estavam todos finalizados: estúdio pronto, equipe contratada e roteiro elaborado. Porém, mais cedo no mesmo dia, ele recebeu uma ligação da assessoria de Marçal pedindo que ele evitasse perguntas relacionadas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
O jornalista, mantendo seu compromisso com a liberdade de imprensa, explicou que suas entrevistas são conduzidas com total independência, onde ele tem a liberdade de perguntar o que achar relevante, enquanto o entrevistado é livre para responder ou não.
Segundo ele, essa postura foi recebida com uma ameaça: a assessoria alertou que, caso ele mantivesse essa posição, a entrevista seria cancelada, colocando-o em uma “saia-justa”.
Firme em sua decisão, o jornalista optou por não negociar sua integridade e se recusou a ceder à pressão. Como resultado, a entrevista foi cancelada, levando o jornalista a expressar sua decepção com Marçal. “O Pablo arregou”, afirmou ele, lamentando o ocorrido. Ele ainda destacou que essa situação reflete um problema maior, onde figuras públicas estão cada vez mais evitando questões sensíveis em nome de “estratégias”, contribuindo para a crise política que o país enfrenta.
O Deputado Eduardo Bolsonaro não perdeu a oportunidade de alimentar a polêmica. Em um vídeo, ele criticou a conduta do candidato Pablo Marçal e trouxe à tona um novo fato curioso sobre o influenciador.
Alvo de críticas na direita bolsonarista, Pablo Marçal decidiu contra-atacar ontem mesmo. Na rede social X, o candidato usou o fato de Figueiredo morar nos Estados Unidos para rebater o argumento de que lhe faltou “coragem” para a entrevista.
“Muito fácil o Paulo Figueiredo falar de coragem, morando nos EUA. Enquanto isso, estamos lutando pelo Brasil real daqui. Topo dar entrevista qualquer dia e hora, aqui em São Paulo. E aí, Paulo, aceita ou vai arregar? Ou sua coragem é somente aí na Flórida? Tá preso aí nós EUA? Mostra sua coragem pra nós!”, disse Marçal no “X”.
O post de Marçal pegou muito mal, principalmente pelo fato de o jornalista ter o passaporte cancelado por ordem justamente do ministro Alexandre de Moraes. Na publicação, o candidato foi alvo de uma enxurrada de críticas, recebendo mais comentários do que curtidas – aqueles familiarizados com as dinâmicas da rede social sabem que isso indica que não foi boa resposta.
Já nesta quinta-feira (22), Paulo Figueiredo rebateu Pablo Marçal:
“Vamos fazer o seguinte: já que você é brother do Alexandre, se você me arrumar o meu passaporte de volta eu vou a São Paulo e te entrevisto. Mas avisa que eu não vou parar de falar dele. Porque já me ofereceram meu passaporte de volta nestas condições e eu mandei enfiarem no toba. Porque eu estou LIVRE nos EUA e você PRESO no Brasil. Um homem que não pode falar o que pensa é um prisioneiro na sua mente. Se quiser detalhes, te explico em uma mentoria. Cobro 5 mil dólares. Enquanto isso, o convite para a entrevista continua aberto.”, disse o jornalista.
O caso abre uma importante discussão sobre a liberdade de imprensa e a responsabilidade dos candidatos políticos em abordar ou não temas sensíveis.